Acho que este é um dos posts mais difíceis que irei fazer por aqui. É complicado falar de uma altura que, em parte, só quero esquecer. Mas acredito também que ao partilhar estes momentos vou dar a oportunidade a outras pessoas de perceberem o que passei e, de certa forma, se identificarem. Sei que não fui a única que atravessou por esta fase e durante o ano de 2020, cerca de 66% dos noivos com cerimónias marcadas para esse ano tiveram que adiar o casamento.
Portanto ao ler este post, só quero que se lembrem que esta foi a minha experiência, que pode ou não ser semelhante à vossa…
Vamos lá então falar sobre como adiei o meu casamento o ano passado.
OS PRIMEIROS SINAIS
Foi no dia 2 de Março de 2020 que soubemos da existência do primeiro caso de COVID em Portugal. Não sei quanto a vocês, mas eu lembro-me perfeitamente onde estava e com quem estava. Recordo-me também do friozinho na barriga que senti e que no fundo me dizia que a nossa vida iria mudar. E mudou. Uns dias depois descobrimos a nossa nova realidade – Andar com um frasco de álcool gel na mala, de máscara no rosto e afastarmo-nos de todos os que nos eram queridos.
Inicialmente não pensei muito na possibilidade de adiar o casamento. Acho que tal como todos os comuns mortais, temos a tendência de achar que “só acontece aos outros”, mas não foi assim. A primeira vez que pensei que era algo que pudesse acontecer foi quando me questionaram se “ainda ia casar”. Penso que essa questão veio demasiado cedo. Era perfeitamente normal que me perguntassem, mas não no inicio dos casos. Infelizmente não foi a única questão do género que me fizeram e outras se seguiram.
Com todas essas perguntas surgiu algo que sempre me foi próximo – a ansiedade. Fiquei imediatamente com a respiração acelerada e com o coração a querer sair-me do peito. Só me diziam para não pensar nisso. Que piada o dizerem a alguém com ansiedade. Então virei-me para o único meio que achava que me podia dar algum sossego. Criei um post na página de casamentos com todos os meus medos relativos à temática em época de COVID e na possibilidade de adiar o casamento.
O POST
Para minha surpresa, mais pessoas estavam como eu e a cada hora que passava tinha cada vez mais respostas. Na verdade, nem sabia para onde me virar e o que começou por ser uma forma de me acalmar teve o efeito contrário. Agora era eu que estava a dizer a outras noivas que ia correr tudo bem e era ótimo falar com tanta gente que passava pelo mesmo.
Eu conversava com estas noivas diariamente e foi um escape de tudo o que estava a passar. Acho que só quem passa por algo assim percebe o estado de ansiedade que existe ao percebermos da possibilidade daquele dia que sonhamos desde pequenas não acontecer na data a que estava destinada.
Foi nesta altura que criei o blog, que já era um sonho antigo. Foram algumas dessas noivas com quem comecei a falar e ainda hoje mantenho contacto que me incentivaram a criá-lo e a elas agradeço imenso. Mas isso é uma história para outra altura.
A PROVA DE VESTIDO
Acredito que o dia 17 de Março de 2020 foi dos piores que já tive a nível emocional. Foi nesse dia que fui à minha primeira prova do vestido. Consigo lembrar-me de tudo desse dia como se fosse hoje. O meu noivo levou-me juntamente com a minha mãe até à loja. Devo ter respirado fundo umas 50 vezes antes de entrar. Era algo que sabia que tinha que fazer mas por um lado não conseguia.
Quando entrei para a sala e vesti o modelo, olhei para o espelho e as lágrimas caiam-me pelo rosto – e eu que não sou de chorar nestas coisas. Mas eu chorava não por olhar para o espelho e sentir-me bonita. Eu olhava para mim e só me perguntava qual o sentido de estar ali se não ia casar de certeza. Fechava os olhos e assim que os abria via uma imagem completamente diferente.
Via-me há uns meses atrás de braço dado com a minha avó de um lado e com a minha tia do outro. Isto porque eu queria que estas duas pessoas tão importantes na minha vida me vissem vestida de noiva. Mal eu sabia a importância que esse dia ia ter, e para vos explicar só posso dizer que a minha tia faleceu um mês antes de eu estar ali, na loja de noivas a olhar para a minha imagem e saber que não a ia ter ao meu lado.
A DECISÃO
Após entrarmos em estado de emergência acho que entrei em negação. Não queria de forma alguma ter que adiar o casamento e acho que nessa altura pensei mesmo em alterar para um dia da semana ou para outro mês. A minha quinta foi incansável. Falei várias vezes com eles e davam-me uma palavra de esperança. Diziam-me aquilo que eu precisava de ouvir.
Não vos consigo referir quando foi, mas à medida que os dias iam passando, começava a ficar com menos esperança. Entrei num estado de tristeza profundo em que tentei não passar para o exterior. Combatia interiormente com todos os meus medos.
Mas houve um dia que respirei fundo e disse que não podia estar assim. E como por milagre tomei uma decisão e fiquei consciente dela sem qualquer remorso, sem qualquer rancor. Eu pensei que com a informação que tínhamos na altura realmente não iria dar para fazer o casamento. Eu sabia que era possível muitos convidados não irem e mesmo antes da quinta dizer que teríamos que o fazer, nós já tínhamos tomado essa decisão. Não nos fazia sentido sonhar em casar este ano em dias com os quais não nos identificávamos e na verdade, já não havia muito tempo para a quantidade de preparativos que ainda teria que fazer. Eu recebi a informação que teria que adiar o casamento no final de Abril e no dia 1 de Maio (exatamente 1 ano depois de ter enviado o Save the Date) informei os convidados.
13 DE JUNHO
Foi difícil largar o meu “13 de Junho” após adiar o casamento. Ainda levei uns dias até me habituar à ideia. Mas nem sempre amei este dia.
Eu queria casar no final de Julho, mas a quinta não tinha datas disponíveis já no inicio de Fevereiro de 2019. E na altura deram-me os pros de casar no final da Primavera. Eu não me opus e marcamos então a data.
Demorou algum tempo a aceitar o 13 de Junho, mas tudo mudou quando falei com a minha tia. Ela era devota de Santo António e disse-me que se tinha casado neste dia também. A partir daí comecei a vê-lo como algo que partilhávamos as duas. Algo que nos unisse.
Então desde o momento que adiei o meu casamento até a esta data original foi um processo. Saber que já não a tinha para olhar para mim no dia do meu casamento nem aquele dia que nos ligava. Acho que só depois do dia passar é que realmente consegui habituar-me a ideia e dizer adeus ao 13 de Junho de 2020 para dar as boas-vindas ao 12 de Junho de 2021.
COMENTÁRIOS FINAIS
Como vos disse no inicio deste post, esta é a minha história. Pode ser semelhante a muitas outras e ao mesmo tempo completamente diferente. Com este post não quero apoiar ninguém a adiar ou a não adiar. Isso só depende de vocês e é o maior conselho que vos posso dar. Não liguem aos comentários, às dicas, aos julgamentos e a tudo o que vos possa colocar em baixo e fazer sentir mal. Só tu e o teu noivo podem decidir se alteram ou mantém. Ninguém tem nada a ver com isso e se vocês estiverem certos da vossa decisão sem qualquer arrependimento, nada pode correr mal. Eu durante este tempo todo não me arrependi uma única vez de ter adiado. E como já disse um dia, aprendi imenso sobre mim mesma e principalmente a perceber que sou mais forte do que aquilo que penso.
Acredito também que este ano vou casar e tento manter-me diariamente positiva para que tal aconteça.
Antes de terminar este post quero só agradecer a algumas pessoas que nunca disse o quanto me ajudaram a ultrapassar toda esta fase. Em primeiro lugar obviamente o noivo, a minha mãe, a minha família. As minhas madrinhas, padrinhos e damas-de-honor e a todas as noivas que diariamente me davam uma força. Se hoje estou aqui otimista é graças a vocês. Obrigada.